Publicado no portal Comunique-se 

Nos últimos anos, o termo fake news apareceu com muito mais frequência em sites e redes sociais. A maior parte das histórias é criada para atrair audiência e obter cliques, consequentemente aumentando a receita com anúncios. As falsas notícias também são usadas para defender os interesses próprios ou desconstruir alguma tese.

A utilização da fake news foi presente com muita força durante as eleições presidenciais nos Estados Unidos, no ano passado, vencida pelo candidato republicano Donald Trump. Acontece que disseminar informações falsas pode afetar grandes empresas, como foi o caso da PepsiCo. Tal fato levou professores de jornalismo e especialistas da área a alertar que essas publicações precisam ser analisadas minuciosamente quanto a sua veracidade.

Para o consultor de crises nos Estados Unidos e responsável pela Newsletter Crisis Management, Jonathan Bernstein, existem diversas notícias que são inventadas diariamente e acabam passando despercebidas pelo público.

“A triste verdade é que, mesmo muitas histórias publicadas pela grande mídia hoje são o que poderíamos considerar notícias falsas. Manchetes sensacionalistas, relatórios antiéticos e uso de fontes totalmente não confiáveis de forma desenfreada são práticas muito comuns na era da Internet e de uma competição acirrada entre empresas de comunicação. Então, você tem a blogosfera e a mídia social, onde qualquer indivíduo perturbado tem o poder e a facilidade de colocar notícias negativas dizendo literalmente o que quiser para milhões de pessoas”, declarou Bernstein, em entrevista ao site comunicação e crise.


Entenda o caso

Durante a campanha eleitoral de 2016, nos Estados Unidos, os simpatizantes de Trump decidiram boicotar todos os produtos da PepsiCo. E o motivo? Por conta de uma declaração que a CEO da empresa nunca fez. 

Em meados de novembro, informações se espalharam rapidamente nas redes sociais afirmando que Indra Nooyi disse aos fãs de Trump para “comprar os produtos da marca em outro lugar”.

Acontece que isso nunca foi dito. Ademais, ela ainda parabenizou o presidente eleito em sua vitória, mas condenou a feia retórica da campanha. O fato é que Indra Nooyi apoiou a democrata Hillary Clinton nas eleições e sempre foi contra as ideias e propostas de Trump no decorrer das eleições.

“A eleição acabou. Eu acho que devemos lutar para aqueles de nós que apoiaram o outro lado. Mas nós temos que nos unir e a vida tem que continuar”, disse ela. A PepsiCo não comentaria o boicote ameaçado, exceto para dizer que Nooyi estava se referindo a “um grupo de funcionários com quem falou que estavam apreensivos com o resultado das eleições”.


Resultado

A notícia mal-intencionada causou prejuízos pra empresa. No gráfico abaixo é visível que no dia em que a falsa citação de Nooyi foi divulgada houve uma queda de 35% nos produtos da PepsiCo.

No entanto, outro dado chama mais a atenção. Nas semanas anteriores ao falso incidente de notícia, o preço das ações da Pepsi era em média de US$ 106,58. No fim de semana que se seguiu, quando as informações foram compartilhadas nas mídias sociais, o valor ficou abaixo de US$ 100. O prejuízo só não foi maior porque rapidamente a notícia foi refutada pela empresa, evitando uma mancha na reputação.

 

Como evitar que a reputação da empresa seja afetada por conta de fake news

O site americano Tucker Hall selecionou algumas dicas de como proceder para não ser prejudicado ou surpreendido por fake news:


Checar a fonte

Notícias falsas não são divulgadas por jornalistas respeitáveis ou meios de comunicação tradicionais importantes, mas sim por operadores de canais de redes sociais e blogs diversos. Fake news até contém fontes, mas costumam ser vagas e geralmente não são rastreáveis. Portanto, verifique bem.


Urgência

Para impedir que notícias falsas sobre sua empresa se espalhem rapidamente — como foi o caso da Pepsi — monitore constantemente as redes sociais. Uma das maneiras para facilitar esse trabalho é por meio das alertas do Google. Você pode configurar para que o Google envie um e-mail ou notificação sempre que o nome da sua marca for mencionado online. Quanto mais tempo a publicação estiver no ar, mais pessoas serão alcançadas. Portanto, seu objetivo é impedir — o mais rápido possível — que a informação se propague.


Posicionamento nos canais de mídia

 Se encontrar qualquer fake news da sua empresa nas redes sociais, você pode solicitar que ela seja retirada imediatamente. É importante fazer uma postagem oficial negando determinada notícia publicada. Use todos os meios para realizar isso — Facebook, Twitter, site ou blog. Mandar e-mail para os clientes também é uma opção interessante.

 

De acordo com o estudo de pesquisa Weber Shandwick’s Employees Rising, 33% dos funcionários falam sobre a organização que trabalham nas mídias sociais espontaneamente. No marketing de influência, eles são considerados como defensores da marca. Portanto, as empresas podem criar e distribuir histórias certas e “seguras” diretamente nas mãos dos funcionários para que eles postem e compartilhem.


Futuro das fake News

Em um mundo bastante competitivo e com cada vez mais pessoas presentes no ambiente online, a concorrência por clique só aumenta. Utilizar fake news para conseguir aumentar a audiência e receita com publicidade é um jogo sujo que afeta até mesmo grandes empresas, como foi o caso da Pepsi. No âmbito político, a frequência de falsas notícias é ainda maior, uma vez que servem como artificio para defender os próprios interesses e desconstruir a verdade do outro.

Atualmente, empresas como Facebook e Google já estão com recursos para evitar que informações falsas sejam postadas ou encontradas no mecanismo de busca. Existe ainda outra maneira de você pesquisar se estiver em dúvida sobre determinado assunto. Basta digitar o tema que você quer saber se é verdade ou não e colocar a palavra hoax na sequência. O Google automaticamente lista todas as notícias falsas que foram divulgadas acerca do assunto.

O jornalista Augusto Nunes, apresentador do programa Roda Viva, da TV Cultura, tem uma visão positiva sobre fake news, mas reitera que o papel de jornalistas e assessores é fundamental no processo de construção da informação.

“As pessoas não sabem lidar com fatos e hoje, com as mídias sociais, tudo se mistura, como por exemplo, verdade e mentira, versão e informação… O que precisa ser feito é uma esperar e analisar aquilo que o jornal vai divulgar, porque ele é mais criterioso. Eu acho que o caminho é que os blogs e novos sites devem ser criteriosos para divulgar alguma informação. Apura, não erra! A tendência é reversível, não tem como escapar do crescimento digital, mas precisa haver essa depuração de sites, e isso vai acontecer naturalmente. Esses sites que inventam coisas e falam mentiras vão morrer” declarou o Augusto Nunes, também colunista da revista VEJA.